quarta-feira, 4 de julho de 2018

A relva em frente



A relva em frente    

(a Jacinto do Prado Coelho)

Numa grande chuva de silêncio / Perfilavam-se as palavras
Erma cartas na praia da mesa  / Com notícias e livros distantes.
A relva em frente continuava a crescer.
Não a relva dos pastores fugidos à escola
Não a infância dos livros escolares da infância
Mas a relva possível aqui entre automóveis
E o passe social perdido nos meus bolsos.
Numa grande chuva de folhas  / Perfilavam-se as árvores
Eram os sentimentais sumários / Dum exercício escrito por fazer.
A relva em frente continuava a crescer.
Agora no mar doméstico dum grande jardim
Podia conhecer um diário talvez de bordo
(A navegação proibida numa onda de receios
Instalada em relatórios e em batas brancas)
Numa grande chuva de sons  / Perfilava-se uma melodia
Eram nuvens caseiras a dispersar  / Num céu boquiaberto pelo vento.
A relva em frente continuava a crescer.
Não havia já sorrisos à cautela nem o medo
Havia um profundo olhar uma quase alegria
Outra árvore (isto pensará quem não souber)
Aqui está pronta a dar ainda mais palavras.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

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