quarta-feira, 29 de maio de 2019

Balada para Vila Nova da Barquinha



Balada para Vila Nova da Barquinha

Vou abalar, vou-me embora
Quero ir para a Barquinha
Lá eu não sou visto de fora
E sinto a terra como minha.
Montijo, Escola Primária
Vila Franca e Santarém
Está na minha secretária
O Ribatejo é Terra Mãe.
Mesmo que teime e insista
Num destino que se perdeu
Este filho dum motorista
Não foi mesmo para o Liceu.
Foi no Esteiro do Nogueira
Numa memória confusa
Que a mais linda avieira
Se tornou a minha musa.
Na Escola o «Velas do Tejo»
O jornal numa parede
Nasceu assim um desejo
Mas nunca mata a sede.
Nessa Escola Comercial
Com História e Geografia
Meu destino natural
Era o balcão, quem diria.
Em Santarém n´O MIRANTE
A escrever na nova luta
Tudo o que fui em diante
Nasceu daquela recruta.
Sou do tempo em que o avio
Do campino mais sozinho
Quando um pão seco e frio
Dava um petisco quentinho.
Sou do tempo do campino
Sem telemóvel ou jeep
Trabalhava o seu destino
Sem algum medo da gripe.
Roupa que a chuva molhava
Não podia ser substituída
Vinha o Sol que a secava
E era assim aquela vida.
  
José do Carmo Francisco

sábado, 18 de maio de 2019

Musa em tarde de esplanada



Musa em tarde de esplanada

Um lugar marcado na esplanada
Para bolo e café contra a rotina
Se passa a correr não dá por nada
Nem vê o perfil da mulher-menina.

Empurrou a neblina da madrugada
Forte e compacta como um muro
Na dúvida aos poucos decifrada
Se desenha o rumo para o futuro.

José do Carmo Francisco

(Quiosque do Oliveira no Principe Real por M. Nagashima)

quarta-feira, 8 de maio de 2019

Balada dos brinquedos da infância (para o Pedro)



Balada dos brinquedos da infância (para o Pedro)

O pedreiro cheira a cal
O carpinteiro a madeira
No ofício de cada qual
Passou uma lavadeira.
A roupa num alguidar
Na cabeça uma rodilha
Não se cansa de cantar
A tarde é uma maravilha.
Passado que se desenha
Lugar de pedra e sabão
A água vem da azenha
Já moeu todo o seu grão.
O brinquedo improvisado
O carro é uma lata lavada
As pinhas estão lado a lado
Como uma junta na estrada.
Para que a carga seja mais
Há uma pedra pequena
E imagino uns animais
Na nossa tarde serena.
Às vezes oiço um sinal
Comboio em S. Martinho
É o vento em vendaval
Traz a chuva de caminho.
Tenho toda a infância
Nas linhas duma balada
Mesmo a grande distância
Aqui ninguém deu por nada.

José do Carmo Francisco

(Óleo de André Henri Dargelas)

Poema autógrafo para Adelino Gomes em 24-4-2019