quinta-feira, 21 de março de 2019

Balada para meu neto Pedro (2019)



Balada para meu neto Pedro (2019)

Nos parabéns do postal
Todo feito artesanato
Sem pai ou mãe no aval
Há um directo contrato.
Um balão verde no ar
Rumo a um céu presente
Olha para mim a cantar
Cantigas de toda a gente.
Na boleia desta leitura
Dum livro sobre a Cidade
Lisboa é uma figura
Entre o sonho e a verdade.
No tempo do calendário
Meu neto Pedro sorria
A descer a Voz do Operário
Na escada do fim do dia.
São sessenta e oito ou sete
Os números de cada idade
O futuro tudo promete
No meio da Liberdade.
Seis e oito são a soma
Do dobro do teu registo
Se tem boca vai a Roma
Por isso nunca desisto.
Da ternura em sementeira
Do amor enquanto lema
Uma vida assim verdadeira
Não cabe dentro do esquema.

José do Carmo Francisco

(Fotografia da colecção particular de JCF)

domingo, 10 de março de 2019

Balada breve para Cecília



Balada breve para Cecília

Cidade das sete gruas
Já foi das sete colinas
No labirinto das ruas
Há retratos de meninas.
No balcão sobre a cidade
Não é precisa a mobília
Chega a força e a verdade
Da presença de Cecília.
Na linha do horizonte
Onde o olhar não tem fim
A voz tem água de fonte
Que alimenta um jardim.
Um castelo e uma igreja
As batalhas e as orações
Tudo aquilo que sobeja
São motivos e razões.
Entre distância e espaço
Da paisagem povoada
O olhar desenha um laço
Outros não dão por nada.
Entre a sopa e os talheres
Peixe e carne, refeição
Povoado por mulheres
A sala tem dimensão.
Mesmo breve é alegria
Mesmo frágil é memória
Fica no registo do dia
Um capítulo da História.
Juntar dois Continentes
Fazem parte do Mundo
São distintos e diferentes
E bem iguais lá no fundo.
Perfil de mulher-menina
Sorriso que instala a paz
A balada não termina
Continua e volta atrás.

José do Carmo Francisco     

(Fotografia de Luís Eme)