terça-feira, 31 de agosto de 2021

Breve poema nº 46 para Ana Isabel

 


Breve poema nº 46 para Ana Isabel

 Alguns dos algarismos do meu neto Pedro são perfeitos mas outros são mais que perfeitos; rigorosos, acabados e exactos. Quase parecem saídos do caixotim duma tipografia.

Um dia dei-lhe uma folha A5 e pedi-lhe o registo imediato da sua caligráfica obra de arte. Em 1966 a Caligrafia era uma disciplina do velho Curso Geral do Comércio; não foi assim há tanto tempo.   

Afinal no sangue pisado da vida, ninguém sabe se nas Artes ou nas Letras, vai haver para ele um futuro caminho para o seu actual talento no desenho dos algarismos.

José do Carmo Francisco          

 

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Breve poema nº 45 para Ana Isabel

 


Breve poema nº 45 para Ana Isabel

Meu neto Lucas passa todos os dias à porta da casa onde viveu Charles Gounod, ali a meio caminho entre Blackheath Park e o Paragon, com os patos, os ventos e os papagaios de papel.

Quando no telefone o ouço ao piano na perseguição do tom mais perfeito para uma próxima apresentação pública, percebo melhor como toda a obra de arte (até a arte pobre das palavras) precisa do seu tempo de oficina. 

Afinal os aplausos na Sala do Conservatório atingem um valor elevado pois são o preço do trabalho obscuro e continuado que foi preciso fazer para os alcançar.

José do Carmo Francisco