terça-feira, 24 de outubro de 2017

Canção breve para Catarina


Canção breve para Catarina

Vejo uma luz tropical
No olhar de Catarina
Na varanda da capital
Nasce uma nova colina.
Se a paisagem ameaça
Um violento aguaceiro
As nuvens da rua à praça
Vão instalar um roteiro.
Ficando a tempestade
No horizonte do dia
Estou a olhar a cidade
Na luz que eu não sabia.
Na paisagem na surpresa
Entre o futuro e a ruína
Há um rumor de beleza
Perfil de mulher-menina.

José do Carmo Francisco 

(fotografia de autor desconhecido)


domingo, 15 de outubro de 2017

Balada para uma fotografia de 1978


Balada para uma fotografia de 1978

Minha filha Ana Maria
Quando era pequenina
Ficou na fotografia
Lá em Santa Catarina.
Entre a avó e o avô
Nessa rua sossegada
O que era e o que sou
Está tudo, não falta nada.
Quarenta anos passados
O tempo quase que voa
Há luz por todos os lados
Como se fosse em Lisboa.
Seus filhos Lucas e Tomás
Meus netos junto ao Tamisa
Procuram saúde e paz
Tudo aquilo que se precisa.
Nos mistérios desta vida
Entre sonhos e escuridão
Não passa despercebida
Toda a nossa situação.
Papagaios no planalto
Com crianças e seus pais
Num tempo de sobressalto
Há horas de nunca mais.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

domingo, 1 de outubro de 2017

Balada para Carlos Teixeira em Évora


Balada para Carlos Teixeira em Évora

Na Rua dos Mercadores
Ao lado da do Raimundo
Havia os vasos de flores
O cheiro era profundo.
Nos cafés daquela Praça
Eu ficava na procura
Da medalha da desgraça
Na poesia mais pura.
Feita de frio no Inverno
E de calor no Verão
O tempo não era eterno
Perdi o meu coração.
Entre o sonho e a saudade
Naquilo que eu escrevia
Estava o selo da cidade 
No poema a cada dia.
Entre muralhas e ruas
Passei parte da vida
Entre a uma e as duas
A sombra era perdida.
Ah! O Hospital Militar
Quem diria, quem diria
Que eu viria a cantar
A luz dessa nostalgia.
Dum cabo miliciano
Noventa escudos o pré
Furriel ao fim do ano
A fingir o que não é. 
Na luz da cal das paredes
Ou na chuva miudinha
Tempo do guarda-redes
Era a solidão sozinha.
Lá vai o Carlos Teixeira
A jogar pelo Lusitano
Desta ou doutra maneira
Vai se o golo do ano.
Vila Franca, Rosa Branca
Diz a canção popular
Na Escola de Vila Franca
Andámos nós a estudar.


José do Carmo Francisco  

(Óleo de Pablo Picasso)