domingo, 22 de julho de 2018

Poema periférico para João B.S.



Poema periférico para João B.S.

Havia no ar um puro som da trompa de harmonia
No ensaio geral dos Restauradores a meio da tarde
Como no arraial à torreira do sol no centro da Praça.
Sinto no resto desse som todos os bombardinos
Todos os trombones, os fliscórnios ou as trompetes
Sem esquecer esse meu velho cornetim de 1922.
Meu avô José Almeida Penas terá tocado algures
Entre as Alcobertas, a Granja Nova e a Ramalhosa
Todas as manhãs de peditório, procissão e arraial.
Lembro as cavacas das Caldas que no sol e no pó
Se tornavam mais macias com o vinho tinto fresco
Mergulhado na celha com a água mais fria das noras.
És tu que segues hoje na nova marcha do Mundo
No lugar onde meu avô deixou o pequeno som
Do velho cornetim que hoje já ninguém toca.
Não te esqueças porque és mais que uma figura
Trazes no teu olhar o fim das minhas lágrimas
E da marcha mais grave que eu até hoje ouvi. 

José do Carmo Francisco

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