quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Colecção



Colecção

Vejo a Arte nas cartas de jogar
Numa montra bonita de Lisboa
Seja na força da arte popular
Seja nos conceitos de Pessoa.

Em tabernas, navios e barbearias
O homem procura novos espaços
Com os gatos, os cães, as filosofias
Apenas Livros edita jogo aos maços

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme)

domingo, 19 de janeiro de 2020

Almanaque



Almanaque

O meu dia começa às quatro e meia
E as tardes são as novas madrugadas
Na tabela de almanaque a maré cheia
Com as palavras assim meio cruzadas.

O lápis e o papel é que eu preciso
Basta-me apenas o que é essencial
Nas viagens a caminho do Paraíso
O poema é o pão do meu bornal.  

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Jean Dieuzaide)

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

O coração de madeira


O coração de madeira

                           (a Luís Santos – Natal 2019)

O pequeno coração é feito da madeira de uma velha oliveira das terras de Judá, cansada de dar azeitonas verdes e pretas para o azeite das lamparinas de todos os lugares de devoção: capelas, ermidas, igrejas, catedrais. Repousa nele, pequeno coração, o grito enorme dos sobreviventes de 9 de Abril de 1948 em Der Iassine quando elementos do grupo terrorista Irgun mataram com punhais e atiraram aos poços dessa aldeia pacata duzentos e cinquenta dos seus habitantes. As casas de Der Iassine foram arrasadas e a aldeia é hoje o espaço de um aeroporto mas as chaves das casas ainda são guardadas pelos velhos de hoje, jovens de 1948, que nunca perderam a esperança de voltar às casas onde nasceram.
Por um acaso que ninguém sabe explicar, os corações de madeira de Belém são comprados na Rua Anchieta nos baixos da Basílica dos Mártires de Lisboa. Em Der Iassine não há basílica para os mártires que foram vítimas de Menahem Begin e de Isaque Shamir. O facto de ambos terem chefiado governos significa que o crime pode compensar mas nunca deixa de ser o que é, um crime, um crime sem prescrição. 


José do Carmo Francisco  

(Fotografia de Luís Eme)