terça-feira, 23 de julho de 2019

Poema periférico para Ana Santos Barros



Poema periférico para Ana Santos Barros

Meu avô José Almeida usava as lágrimas
Em vez de pregos nos caixões dos anjinhos
Que fazia sem levar dinheiro pelo trabalho.
Vinham rapazes de longe, primos ou irmãos
Do menino morto com o tifo ou o garrotilho
Com o pedido por favor do pai da criança. 
Vestir o morto e chorar era coisa delas
Das mulheres da família reunidas em casa
A comer apenas o que as vizinhas davam.
Meu avô trabalhava devagar na oficina
Na nossa terra nem médico nem farmácia
Mais que solidão aquilo era o desamparo.
«Fazer versos dói» como pregar pregos
No caixão para o anjinho a pedido do pai
Chama-se S. Catarina podia ser S. Mateus.
Qualquer lugar serve para sofrer a vida
Sem os momentos felizes nem as ilusões
Do Cinema, do Teatro ou da Literatura.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Musa entre Cecília Correia e Maria Keil



Musa entre Cecília Correia e Maria Keil

Limões, hortaliças, verduras
Num carrinho ao fim da rua
Dez histórias de aventuras
Cada leitor chama-lhe sua.

O Mundo visto à janela
Debruçado sobre o Tejo
E a camisola amarela
Ganha corrida ao desejo.

José do Carmo Francisco