segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Novo poema nº 25 para Ana Isabel



Novo poema nº 25 para Ana Isabel

Stanley Rous morreu mas a maldição continua. Como em 1966 quando o árbitro suíço e o assistente soviético escreveram torto por linhas direitas. Era o jogo da final do Campeonato do Mundo com a Alemanha Ocidental.

Hoje 7-7-21 dois jogadores com nomes especiais (Sterling e Kane) mostraram como se pode ser especialista em saltos para a relva; o prémio sai sempre como na antiga Feira Popular. Neste caso pode ser o Campeonato da Europa.

Porque parece absoluto mas é tudo relativo como darem o nome de Campeonato a um torneio no qual só a primeira fase o é; todo o resto da prova é formato de Taça.

José do Carmo Francisco      


terça-feira, 22 de novembro de 2022

Novo poema nº 24 para Ana Isabel


Novo poema nº 24 para Ana Isabel

«Tu não estejas sempre a criticar os meus irmãos. Quando tu entraste na minha vida já eles cá estavam e quando dela saíres eles vão continuar.»

Mais palavra menos palavra foi esta a solene advertência a demarcar o terreno interdito daquele que é o permitido.

Porque o homem já sabia que era um verbo-de-encher; o problema foi o modo explícito, cruel e firme como tudo aquilo foi formulado

 José do Carmo Francisco

(Óleo de Paul Lantz)      


segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Novo poema nº 23 para Ana Isabel

 

Novo poema nº 23 para Ana Isabel

Na página 150 de Os Pescadores de Raul Brandão há nomes de barcos na Nazaré: Formosa Ana, Luz do Sol, Senhora da Memória, Mar da Vida. Na página seguinte surgem os pescadores Joaquim Chita, Carlos Petinga, Cara Má, Miguel Panelão e Esgaio entre outros. 

É possível que esse pescador Esgaio seja o bisavô do jovem jogador Esgaio que acabou de assinar contrato com o Sporting Clube de Portugal por vários anos.

Porque o que mais lembro desse jovem futebolista são as canadianas por si usadas em 2006 quando recebeu uma medalha num Torneio de Futebol Juvenil em Frielas.

José do Carmo Francisco   

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Novo poema nº 22 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 22 para Ana Isabel

Autor de onze livros, Telmo Ferraz (1925), sacerdote desde 1951, é referenciado sempre pelo seu livro de estreia O lodo e as estrelas, um belo conjunto de crónicas com três edições: 1960, 1975 e 1985.

Capelão da Barragem de Picote nos anos cinquenta, continuou depois o seu magistério pastoral e humanitário em Cambambe (Angola) onde fundou a Casa do Gaiato de Benguela em 1963.

Porque nas estrelas todos temos direito ao nosso Planetário privativo embora a única certeza no lodo seja a de não ter a certeza sobre se as estrelas que vemos hoje ainda existem de facto. 

José do Carmo Francisco  

(Óleo de René Magritte)


domingo, 25 de setembro de 2022

Novo poema nº 21 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 21 para Ana Isabel

Lá pelos idos de 1995, no fim de uma tarde quente de pré-época, fiz para o Jornal Sporting a crónica de um jogo amigável (no Brasil dizem amistoso) entre as equipas «A» dos leões e da Juventus de Itália.

No Estádio José Alvalade vi o jogo ao lado de Gianluca Vialli e de Fabrizio Ravanelli. Não recordo o resultado mas não esqueço a resposta de Vialli quando Sousa Cintra lhe sugeriu um whisky com pedras de gelo: «Obrigado! Água, apenas água!».

Porque as bebidas fermentadas, por mais aceitação que tenham na gramática da vida social, não são as mais indicadas para os, como era o caso, desportistas de alta competição.  

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

 

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Novo poema nº 20 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 20 para Ana Isabel

O segundo marido de Marieluise Fleisser (1901-1974) não a deixava sair do balcão da tabacaria para escrever e como já tinha havido problemas no primeiro casamento, ela entrou em depressão profunda.

Nunca fui a Ingolstadt nem conheço em pormenor os seus contos e peças de teatro, tenho apenas um dos Livrinhos de Teatro dos Artistas Unidos em tradução de Vasco Pimentel mas o meu 1983-Um resumo de 1991 tem uma epígrafe desta autora.

Porque a vida é um mistério e hoje ao ler a sua peça Tropa Fandanga em Ingolstadt descubro que o peso das suas palavras esteve sempre muito perto das minhas que são modestas, simples e obscuras.  

José do Carmo Francisco   

(Fotografia de autor desconhecido)


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Novo poema nº 19 para Ana Isabel

Novo poema nº 19 para Ana Isabel

Os livros são como as pessoas; a capa omite, disfarça, oblitera e desvia a atenção tal como o rosto esconde muitas vezes o perfil e o conteúdo do ser humano que depressa se perde na multidão.

Em O meu grande livro dos Animais de 1997 a capa não revela a identidade da autora do texto e indica apenas o nome da ilustradora. O livro Transporte Sentimental de 1999 tem um veleiro na capa e no miolo estão poemas com autocarros, eléctricos, elevadores e cacilheiros     

Porque nunca é demasiado o tempo que se gasta neste olhar sobre dois livros tão diferentes e tão iguais; como se a cidade de Hong Kong fosse ali ao pé de Xabregas.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme)

 

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Novo poema nº 18 para Ana Isabel


Novo poema nº 18 para Ana Isabel

Na novela O Tubarão de Vitorino Nemésio há uma personagem que nunca tinha ouvido empregar o verbo desmanchar senão na costura ou em tricot. 

Em resposta à sua pergunta «Tem muitos filhos?» a rapariga que lhe deu água de um cântaro respondeu: «Tenho três, fora o que foi para o Céu e dois desmanchos».

Porque cada palavra tem o seu peso ou densidade e na linguagem usada tem tudo a ver com o lugar de cada um na Sociedade; na verdade só os filólogos estudam o chamado desvio semântico.    

José do Carmo Francisco     

(Fotografia de autor desconhecido)


quinta-feira, 30 de junho de 2022

Novo poema nº 17 para Ana Isabel


Novo poema nº 17 para Ana Isabel

Às vezes o poema está nas costas de um sobrescrito usado, outras num qualquer resto de fotocópia que uma tesoura cortou; é sempre um espaço em branco e um desafio.

Chamam-lhe arte pobre porque vive do lápis barato ou da esferográfica oferecida por uma Câmara Municipal, nasce sem precisar de luxo público nem de distinção particular.

Porque é da grande escassez de meios que a voz do Homem ganha força e se eleva para cantar ou para reflectir sobre tudo aquilo que não se pode dizer de outra maneira.     

José do Carmo Francisco 

(Fotografia de Luís Eme - Lisboa)   

 

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Novo poema nº 16 para Ana Isabel


Novo poema nº 16 para Ana Isabel

Na grande Feira da Rio Maior em 1955 ouvi uma mulher cega cantar assim: «foi numa aldeia alentejana mas que horror/que uma mãe matou três filhos duma vez.

Desgraças, crimes e misérias sempre houve e haverá no Mundo; está tudo explicado na Bíblia e nas Obras Completas de William Shakespeare.

Porque a única resposta à Morte é a Vida, o mesmo é dizer - a juventude de uma mulher feita bandeira de um amor pleno, forte e infinito.

José do Carmo Francisco


sexta-feira, 27 de maio de 2022

Novo poema nº 15 para Ana Isabel


Novo poema nº 15 para Ana Isabel

Ela era uma menina de nove anos em 1983, no Jardim da Estrela a brincar com a irmã depois levar flores ao jazigo do poeta Fernando Pessoa, ele mesmo.

Hoje pediu-me amizade no Facebook e eu disse logo que sim porque sinto nela a proximidade dos pais, da irmã e da filha apesar do sofrimento, da morte e da distância.

Porque mesmo quando me dizem o pior das redes sociais ainda me deixo comover por estas coisas da tecnologia e dos recursos humanos que são quase infinitos.  

José do Carmo Francisco 

 (Fotografia de Luís Eme)


domingo, 15 de maio de 2022

Novo poema nº 14 para Ana Isabel


Novo poema nº 14 para Ana Isabel

Com a escrita de Zetho Cunha Gonçalves há um olhar diferente sobre a Poesia e o Mundo; no livro Transversões temos dois caminhos e duas fórmulas – a canção e a reflexão.

De poeta para poeta, de poema para poema, cada voz traz em si o timbre, a respiração e a temperatura dum certo tempo determinado que desagua no poema. 

Porque se trata na verdade de uma antologia pessoal, na escolha e na versão, o seu valor relativo aumenta e não se discute aqui e agora mais um livro de poemas.

José do Carmo Francisco


sexta-feira, 29 de abril de 2022

Novo poema nº 13 para Ana Isabel


Novo poema nº 13 para Ana Isabel

Nova Gente de 24-6-21 não tem razão: o jogo Casa Pia-Sporting em Pina Manique foi em 17-10-99 (não em Setembro), o CR7 não foi o capitão de equipa (era o Carlos Marques), o Campeonato era de Iniciados (não de Juvenis).

Nessa manhã foi decisivo o árbitro António Cardoso, o enfermeiro Fontinha, o treinador Palhares e o Delegado Atanásio. Na transferência do Nacional para o Sporting foi importante o Dr. Marques de Freitas, o Dr. Simões de Almeida, Aurélio Pereira, Leonel Pontes e Isabel Trigo de Mira.

Porque não podemos esquecer Luís Dias, Paulo Cardoso, Osvaldo Silva, Paulo Leitão, Luís Gonçalves, Luís Martins e João Couto, salvo erro ou omissão; e «pelos frutos se conhece a árvore».    

José do Carmo Francisco


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Poema afastado nº 57 para Ana Isabel


Poema afastado nº 57 para Ana Isabel

Nos meus tempos de Ciclo Preparatório lá pelos idos de 1962 em Vila Franca de Xira tive um colega de turma a quem os mais próximos chamavam «talita», palavra que só hoje (2022) descobri ser de origem aramaica e significar «rapariga»,

Hoje não me é possível destrinçar o que ao tempo haveria de irónico no uso dessa palavra; sei apenas que no Brasil está muito vulgarizado o seu uso e há muitos milhares de meninas com esse nome.

Tudo conforme o livro «Jesus de Nazaré» de José da Felicidade Alves que na sua página 19 recorda o Evangelho de São Marcos e as palavras aramaicas no milagre da filha de Jairo: «talitha kum» – que é rapariga levanta-te!

José do Carmo Francisco


quinta-feira, 31 de março de 2022

Novo poema nº 12 para Ana Isabel


Novo poema nº 12 para Ana Isabel

A mulher pobre chorou depois de pedir duzentos euros a um padre para pagar a factura da electricidade; ele vinha da agência bancária onde levantou dois mil euros.

Com tantos problemas humanos no percurso entre o balcão do Banco e a Casa do Gaiato, ele já só tinha um pequeno saldo e foi todo.

Porque é ela diabética e a insulina precisa de frigorífico; se a mulher pobre não pagar esta conta atrasada a Companhia corta a ligação à rede.    

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Henri Cartier-Bresson)   

         

domingo, 13 de março de 2022

Novo poema nº 11 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 11 para Ana Isabel

Na carta de 1926 para Simão Neves o Padre Américo, fundador das Casas do Gaiato, agradece as revistas National  Goegraphic Magazine e afirma: «Eu tenho muita pena dos homens que se embriagam».

Mais tarde em 1940 ajuda uma mulher pobre e desabafa em Coimbra: «Homens que por nada espancam as suas mulheres, choram com pena doutras!».

Porque eram carroceiros, andavam ao fanico mas tinham um fundo de bondade e devolveram ao Padre Américo o dinheiro do bilhete da mulher que ia para Lisboa e teve uma boleia.   

José do Carmo Francisco

(Fotografia de J.C. Alvarez)


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Novo poema nº 10 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 10 para Ana Isabel

Em Janeiro de 1960 foi a fuga de Peniche; um GNR veio de bicicleta chamar o meu pai para conduzir a camioneta do Palácio da Justiça com um grupo de guardas prisionais, polícias e guardas republicanos.

Iam todos do Montijo para Pegões tentar deter no cruzamento os por eles chamados malandros que tinham fugido do Forte de Peniche pelo lado do oceano com os lençóis a servirem de cordas.  

Meu pai nunca acreditou que os presos de Peniche fossem aparecer em Pegões mas como ele disse baixinho «El-rei manda avançar, não manda chover.»

José do Carmo Francisco 

(Desenho de Cruzeiro Seixas)

    

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Novo poema nº 9 para Ana Isabel

 


Novo poema nº 9 para Ana Isabel

De Outubro de 1958 a Julho de 1961 percorri os quatro anos lectivos da Escola Primária em três anos civis. Entrei na Escola com sete anos mas nunca me sentei na fila dos burros nem dos assim-assim; sempre na dos bons.

Graças a uma carta do pároco da minha aldeia, o Ministro da Educação Nacional autorizou o exame da terceira classe em Abril e o da quarta em Julho de 1961.

Porque nunca é tarde para se fazer justiça que, sempre relativa, não deixa de ser justa mas da humilhação já ninguém me pode livrar.  

José do Carmo Francisco 

(Óleo de Karl Schmidt)


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Novo poema nº 8 para Ana Isabel


Novo poema nº 8 para Ana Isabel

O grupo de mulheres mandou o menino «brincar para a estrada» mas em 1956 não era perigoso porque entre Alcobaça e Caldas da Rainha o trânsito era muito reduzido.

As vizinhas insistiam nas toalhas limpas e nas panelas de água quente para que tudo corresse bem à criança a nascer e à mãe de vinte e cinco anos.

Porque nem a tosse convulsa nem a infecção intestinal a conseguiram derrotar é que a alegria de hoje é feita de lágrimas e de sangue pisado.    

José do Carmo Francisco  

(Óleo de Frederic Bazille)


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Novo poema nº 7 para Ana Isabel



Novo poema nº 7 para Ana Isabel

Algumas das portas dos prédios desta Rua ostentam flores pequenas em cima da madeira da porta como se ela fosse um lugar de oração e não um ponto de passagem.

Nesta liturgia urbana é como se houvesse uma missa campal: o sol, o altar, o calor, a palavra, as espécies do ofertório, as lágrimas da comunhão.

Porque em Janeiro morreu uma menina e por cada sonho adiado surge uma flor sobre a madeira da porta na teimosia ingénua mas profunda de juntar de novo tudo aquilo que a morte separou.

José do Carmo Francisco

(Óleo de Henri Matisse)