segunda-feira, 21 de março de 2016

Sobre uma paisagem de Cesare Novi


Sobre uma paisagem de Cesare Novi

Turismo de habitação, agricultura
Nas janelas abertas à ventania
Quem chega a este cabo não procura
Porque descobre o alfabeto da alegria
O caminho vai dar ao arco das piçarras
No meio ficam as casas do caseiro
O mar imita o som das guitarras
Que entra na porta aberta do celeiro
Para dar ao tempo a luz da melodia
Que tem no mar o foco da vertigem
Península do sossego onde acaba o dia
Que tem na madrugada a sua origem
Aqui o tempo suspende os segredos
Do viajante que sente a serenidade
Deixa na mala a angústia e os medos
Entre o verde e o azul tudo é verdade

José do Carmo Francisco  

(Óleo de Cesare Novi - para festejar o Dia Mundial da Poesia)

segunda-feira, 14 de março de 2016

Balada para Nuno Costa Santos


Balada para Nuno Costa Santos

Na balada que componho
À esquina da minha idade
Tudo começa num sonho
Que de repente é verdade.
Que avança na vertigem
Do som que se junta a nós
Na voz da Terra a origem
Duma harmonia sem voz.
Que Rafael bem organiza
Nas notas que são caminho
Da melodia tão precisa
E ninguém fica sozinho.
Como se romeiro isolado
A rezar por toda a gente
Caminhasse ao nosso lado
Numa direcção em frente.
Há uma chuva paralela
No meu tempo da infância
Fechava a porta e a janela
A noite era essa distância.
E o vento trazia o mar
E o vinho era aquecido
Na lareira do meu lar
Junto ao avô perdido.
O açúcar mais barato
Era o doce sumo da uva
Que fica no meu retrato
Nas noites de frio e chuva.
Minha terra era o espaço
Sem estradas e isolado
Onde a voz marcava passo
E não ia a todo o lado.
No fim de tarde em Lisboa
Não me cansa a melodia
Rafael dá-me em pessoa
O que o «youtube» trazia
Na feliz banda sonora
Dum livro que é oração
A ligar a toda a hora
O tempo e o coração.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Luís Eme)

terça-feira, 8 de março de 2016

Perfil de mulher


Perfil de mulher

Há sempre a luz nos olhos de Fernanda
Na sua boca há o calor de uma bandeira
Presa ao vento no frio de uma varanda
Na voz uma canção antiga e verdadeira

Uma canção que é voz do campo à cidade
Mesmo sabendo a diferença na geografia
Tudo é diferente como mentira e verdade
Tudo é melhor como a tristeza e a alegria

Há sempre a luz nos olhos de Fernanda
Mistério que se desdobra num segredo
À esquerda toda a água da Outra Banda
À direita um Monte Santo de arvoredo

Nesta luz que resiste a toda a escuridão
Há uma força que parece tão pequenina
A bandeira não é do País nem da Nação
É a alma indomada da mulher-menina    

José do Carmo Francisco

(Óleo de Franz Dvorak)