sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Balada para Virgínia no Largo do Pelourinho


Balada para Virgínia no Largo do Pelourinho

Há quem chame auditoria
Há quem prefira inspecção
Quando chega o fim do dia
Só queremos ter o «Razão».
No Largo do Pelourinho
Coração em pé de guerra
Ninguém se sente sozinho
No centro da nossa terra.
Hoje não há vasilhame
Nem taras no Inventário
O Balanço é um exame
Tudo o resto é o contrário
E do Diário Analítico
Já ninguém ouve falar
Neste rio que é político
Vejo o caminho do mar.
Onde o sossego da areia
Aquece tudo o que é mais
Cobranças de Conta Alheia
São factos patrimoniais.
Jornalista antepassado
No Jornal Catarinense
Vai comigo a todo o lado
Tudo passa e tudo vence
No bloco de Juventino
Nas palavras cautelosas
Se desenha um desatino
Feito de espinhos e rosas.
Com  automóveis à beira
Da estrada aos Domingos
E pagavam à lavadeira
Para lavar o pó e os pingos. 

José do Carmo Francisco
  
(Fotografia de autor desconhecido)

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Um vinho branco em Veneza


Um vinho branco em Veneza ( homenagem a Sílvio Castro)

A noite trouxe palavras na toalha da mesa
Eu vinha de Bolonha como enviado especial
A nossa festa tinha vinho branco em Veneza
No restaurante muito se falou em Portugal.
Havia Fernando Couto e Edmilson lesionado
Na alegria do encontro nem recordo a ementa
Foi em 98 e ainda o Euro não tinha chegado
Eu trouxe no comboio uma nuvem cinzenta.
Dizem que vinho é só um tempo engarrafado
Conheci gente em Veneza mas sem despedida
Hoje há uma pergunta que vem de todo o lado:
Que coisa é afinal esta tua e esta nossa vida?


José do Carmo Francisco     

domingo, 11 de dezembro de 2016

Pranto e Lamentação para Filipa em Maio


Pranto e Lamentação para Filipa em Maio

Eu oiço a voz calorosa do major Raúl Brandão
Na mesa mais distante do café da Faculdade
Sentada de costas vejo a princesa do mouchão
Que trouxe a luz do campo ao escuro da cidade.
Do que ficou das cheias formou-se um aluvião
Lodo, areia e matérias arrastadas nas correntes
A demora para processar esta nova situação
Leva milhares de anos vagarosos e pacientes.
Escreva sobre os Pobres lhe disseram numa casa
Num pátio de anarquistas numa noite de Lisboa
Filipa que estudava as palavras em fogo e brasa
Levou consigo a chave para decifrar uma pessoa.
Voltaremos todos nós a essa mesa mais distante
Do lado esquerdo da porta principal do edifício
Para saber o pormenor mais fino e importante
Da viagem iniciada ao esplendor do seu ofício.

José do Carmo Francisco   
            

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Retrato breve de Filipa em Vila Franca


Retrato breve de Filipa em Vila Franca

Flor da Lezíria, menina
Em Vila Franca, cidade
Descobre a cada esquina
O mapa de uma saudade
Passam alunos da Escola
Que ficam na fotografia
Todos usam camisola
A manhã está muito fria
Fecharam as tronqueiras
Já se sente uma emoção
As paixões verdadeiras
Não precisam explicação 
Entre gaibéus e avieiros
Passa a memória sentida
Do Tejo a encher esteiros
Com água que traz a vida
Os barcos cheios de areia
Chegam de manhã ao cais
Hoje o Gil Conde passeia
Nas águas do nunca mais
E no comboio que passa
Tão veloz para o Oriente
Há memória da barcaça
Com automóveis e gente
Ao lado fica um jardim
O ringue de patinagem
Os jogos não tinham fim
As palmas eram coragem
Olha de longe o Mouchão
Onde só olhar é preciso
E a terra vem dar razão
A quem busca o paraíso
Água, fogo, ar e terra
Conjugados num lugar
Coração em pé de guerra
Tem um poema de cantar
Flor da Lezíria, menina
Em Vila Franca, cidade
Descobre a cada esquina
O mapa de uma saudade

José do Carmo Francisco