sexta-feira, 29 de junho de 2018

Poema periférico para o Bom Retiro



Poema periférico para o Bom Retiro

O Bairro começava nos prédios da Confidente
E ia até ao fresco da Fonte de Santa Sofia
Para acabar ao lado do Colégio Sousa Martins.
No Jorge os homens jogavam ao chinquilho
Nas tardes dos sábados sem horas a contar
E as mulheres falavam na falta das azeitonas.
O homem GazCidla usava a caixa de fósforos
Para ter a certeza de que o gás não fugia
E sempre na casa com crianças ali ao lado.
Uma mulher chamou-nos gente ambulante
Mal sabendo ela a pobre o que estava a dizer
Porque a gente ambulante eram os ciganos.
Claro que já não eram ciganos como os outros
Mas o que a mulher dizia com rancor para nós
Era comos os cães do gado frente à caravana.
Ciganos a vida inteira a trabalhar para os outros
Nas hortas, nas eiras, nas vinhas, nos olivais
E a tristeza nos olhos sem idade e sem destino.

José do Carmo Francisco       

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