sábado, 31 de janeiro de 2015

Aldeia


Aldeia

Eu fiz dos teus olhos uma aldeia
Uma daquelas aldeias pequeninas
Por cima um monte, a vida cheia
Por baixo o rio de águas cristalinas 

Sinal de vida, o fumo das lareiras
Todos os dias o trigo é a verdade
E as mulheres casadas e solteiras
Cozem o pão no forno sem idade

Eu fiz dos teus olhos uma aldeia
Na esperança de ser um habitante
Acabei preso na grande cadeia
Numa cidade afastada e distante

Hoje sou um citadino desolado
Bate o frio, vem a chuva pela rua
Na aldeia que sonhei do teu lado

Vejo uma casa vazia que é só tua

José do Carmo Francisco

(O óleo é de Paul Corfield)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Fado Feira da Cebola


Fado Feira da Cebola

Na Feira da Cebola em Setembro
Em Rio Maior, férias da Escola
O avô compra o sal de Dezembro
Os cegos cantam por uma esmola.
Cabos de cebola de Alvorninha
Atraem o olhar de toda a gente
Às vezes vem a chuva miudinha
Sob o carro de bois é diferente.
Eu durmo na manta aconchegado
A chuva só molha os animais
Havia roubos na feira de gado
Batiam nos ladrões com os varais.
Fechada a estrada a fardos de palha
Passam os ciclistas num pelotão
A gente parecia uma muralha
Empurrava homens com o coração.

José do Carmo Francisco

(fotografia de autor desconhecido)

domingo, 11 de janeiro de 2015

Orion - 70 anos depois na Calçada do Combro


Orion – 70 anos depois na Calçada do Combro

Na montra que se vê como janela
Princípio comercial tem o porém:
Comércio é para servir a clientela
Mas sem ser criado de ninguém.
Há o respeito entre mesa e balcão
No trabalho repetido em cada dia
Feliz mistura de serviço e de paixão
Num espaço de encanto e harmonia.
Vejo uma luz acesa na madrugada 
Na cozinha, o motor da casa inteira
O café aquece quem sobe a calçada
Bolo de mel mata fome verdadeira.
Setenta anos depois dos seus inícios
De simples leitaria a café sofisticado
Quem passa não imagina os sacrifícios
Do futuro que tem raízes no passado.
                                                                      
José do Carmo Francisco  

(O óleo é de  Pam Powell)