sábado, 31 de agosto de 2013

Balada do Vulcão dos Capelinhos


Balada do Vulcão dos Capelinhos

O Vulcão dos Capelinhos
Na voz de Carlos Lobão
Projecta vários caminhos
Numa mesma direcção
Verdades nuas e frias
Contra o pó da emoção
Contra as pobres teorias
Só lhe interessa a razão
Vive sono nos ficheiros
Deixou de contar os dias
Argumentos verdadeiros
Saíram das secretarias
Vê a areia em telhados
E estuda o passaporte
Entre tantos sinistrados
Não resultou uma morte
Kennedy é fotografado
Como grande benfeitor
Mas não ficou provado
Que ele teve tanto valor

Pela carta americana
Bilhete de identidade
Dentro de uma semana
Já começava a saudade
Levam nos seus ouvidos
O som destas procissões
Rosários tão compridos
Envolvem seus corações
Outros embarcam a medo
Moçambique é o destino
Ninguém revela o segredo
Daquele grupo peregrino
Que se interna no capim
Numa terra tão diferente
Mesmo longe era assim
Fortes a querer ser gente
O vulcão dos Capelinhos
Na voz de Carlos Lobão
Projecta vários caminhos
Numa mesma direcção            


José do Carmo Francisco          

(Fotografia de Autor Desconhecido)

sábado, 17 de agosto de 2013

Balada para um menino


Balada para um menino

Numa tarde encalorada
Em que te espero na escola
O Mundo não dá por nada
Rua do amor em esmola.

Feira da Ladra, estendal
De coisas velhas, antigas
Desfazendo o enxoval
Invernos das raparigas.

Quando tempo prolongado
Pela noite escura e fria
Pressentia em todo o lado
O sonho de uma alegria.

Nós passamos pelo jardim
De esplanada barulhenta
Os anos que são para mim
Já passam dos sessenta.

Eu procuro a televisão
E os desenhos animados
Fecho os olhos com razão
Os sonhos estão acordados.

Num olhar determinado
De criança, gente em flor
Fica à espera deste lado
Da chucha e do cobertor.

Parece que há dois sóis
Na linha do céu acima
Como se os teus caracóis
Fossem a força da rima.

Fossem ritmo de balada
Do menino que procura
Na cidade desarmada
O jardim só de frescura.

José do Carmo Francisco

(O óleo é de Thomas Ehertsmann)

  

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Balada dos telhados de Lisboa


Balada dos telhados de Lisboa

Telhados da minha cidade
Com as gaivotas a gritar
Avisos de tempestade
Lá para dentro do mar.
Que o mar à nossa frente
É mais a figura de estilo
Mar da palha e da gente
Só no Verão está tranquilo.
Rompe defesas no Inverno
Traz a palha dos animais
Para o estuário moderno
Que vive de outros sinais.
Que vive de outras medidas
Sem fragatas nem faluas
As pontes de ferro erguidas
Enchem de carros as ruas.
E digo adeus aos telhados
Da cidade debruçada
Sobre vapores lembrados
Numa memória de nada.

José do Carmo Francisco   

(Fotografia de Luís Milheiro)