sexta-feira, 12 de julho de 2013

Senhora da Boa Viagem


Senhora da Boa Viagem

As mais belas colchas nas janelas
Flutuam como bandeiras dum país
Nas filas da Filarmónica paralelas
Eu sou de novo um menino feliz.
Vi o rapaz da Biblioteca no andor
Reconheço um anjinho disfarçado
O vento que nos refresca do calor
Diz que já andou por todo o lado.
Perdido entre andores e bandeiras
Entre o pálio e pendões dispersos
Sinto logo saudades verdadeiras
Da poesia sem linhas e sem versos.
Um tempo onde tudo era imenso 
E a morte na verdade não existia
Na mistura do sol com o incenso
A procissão era o lugar da alegria.


José do Carmo Francisco  

(fotografia de autor desconhecido)

sábado, 6 de julho de 2013

A voz de Fernanda


A voz de Fernanda

No som da tua voz há uma mistura
De alegria e de tristeza combinadas
Há nela todo o calor da tua ternura
Mais o frio trazido nas madrugadas

Oiço o som das tardes de sementeira
Na voz dentro do telefone da cidade
No entanto a sensação é verdadeira
Porque tudo na tua voz fala verdade

No som da tua voz há uma mistura
Do campo e da cidade de ruas vazias
Onde autocarros cheios de amargura
Passam junto à tua casa todos os dias

Oiço nela o som das tarefas da cozinha
Sinto nela o calor do forno a cozer pão
A tua voz nunca está longe nem sozinha
Está comigo entre o ouvido e o coração


José do Carmo Francisco

(Óleo de Graig Mullins)