segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Balada para um encontro


Balada para um encontro

Nome de guerra, Silvina
Mapa antigo da cidade
Levanta a voz cristalina
Para dizer sua verdade
As ruas, igrejas e praças
São História por camadas
Em cima guerras, desgraças
Em baixo glórias passadas
Nome de guerra, Silvina
Entre clássico e moderno
Traz uma voz de menina
Ao tempo que é eterno
Fazendo viver de novo
A narração do conflito
E na memória do povo
Já é a figura de mito
Nome de guerra, Silvina
Num teatro de poesia
Diz adeus na sua esquina
Convoca uma alegria
Que nos cafés do Rossio
Teimosa todos os meses
Mesmo no tempo do frio
Aquece a voz dos fregueses

José do Carmo Francisco   

(Fotografia de Autor Desconhecido)  

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Balada de Mateus Queimado em 1913


Balada de Mateus Queimado em 1913

Meu tio, juiz de Direito
Comarca da ilha de Goa
Veio reformado a preceito
Era a bondade em pessoa

Da Índia eu nada sabia
Com tigres e palmares
Na Ilha era outra alegria
Touros em vários lugares

Na venda do Cambadinho
Cravo, pimenta e canela
Faço um recado sozinho
Espero o meu tio à janela

Entre lágrimas da mãe
Um suspiro mal abafado
Saímos mas não a bem
Despejados no mandado

Uma loiça de tons quentes
Foi sair duns caixotões
Eram colchas diferentes
Estampas, leques, cadeirões

No Mandovi ele insistia
Nós só tínhamos ribeiras
Um caudal só de um dia
Com lamas amareleiras

Um telegrama cifrado
Meio da aula de francês
De Lausanne enviado
Levou meu tio de vez

Pediu-lhe ajuda a filha
Para a fúria da mulher
Ele disse adeus à Ilha
São Francisco Xavier

Conversa interrompida
Do meu tio aposentado
Assim Goa saiu da vida
Do moço Mateus Queimado         

José do Carmo Francisco     

(fotografia de Autor Desconhecido)