quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Poema periférico para Luísa Amaro



Poema periférico para Luísa Amaro

Os Ilhéus de Langerhans estão longe
Fora do mapa do turismo e das férias
Longe da vida e do sol das manhãs.
Esse homem foi professor em Friburg
Ló onde estudou a fundo o meu caso
Que afinal é igual em todo o Mundo.
Há 40 anos no «Popular» o meu poema
Tinha as três palavras «Na tua morte»
Porque todo o poema é uma resposta.
Todas as manhãs há uma a menos
Mas o Mundo esse não pára de rodar
Como as músicas do seu próximo CD.
Escrever é aqui uma maneira de sofrer
Para que o pó se perca na posteridade
E a canção seja mais forte que a lágrima.
Tinha razão o poeta Ruy Belo a escrever
«O medo da morte é a fonte da arte»
Por isso se junta o que a morte separou.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)
 

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Poema periférico para Mário Jorge



Poema periférico para Mário Jorge

Eu ainda comi os quadrados de marmelada
Eram dados ao intervalo pelo roupeiro Víctor
Filho do guarda-redes mais sério de Portugal.
Eu ainda fui a Bolonha como enviado especial
E vi como o árbitro careca deu a volta aos belgas
Para evitar cartões amarelos aos donos da casa.
Eu vi a melhor equipa de Iniciados de sempre
Vencer todos os jogos e marcar duzentos golos
Para as toupeiras não os deixaram ser campeões.
Eu percebi cedo que o resgate dum jogo mau
É sempre o próximo jogo que queremos ganhar
E por isso só falamos dele em toda a semana.
Eu também estava lá quando num Carnaval
Ninguém descobriu o misterioso mascarado
Que nasceu no circo tal e qual como o primo.
Hoje sei que tudo se perde no meio do pó
Porque a posteridade é mais que relativa
Com factores que não se podem controlar.  

José do Carmo Francisco  

(fotografia de autor desconhecido)

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Balada da carreira da viúva



Balada da carreira da viúva

Bilhetes para o passado
Não os tem o cobrador
Quem os tivera comprado
Iria até seja onde fôr

O tempo em que os beijos
Não tinham preço ou valor
As lágrimas e os desejos
Eram grátis como o amor

Da Meda para o Pinhão
Ou no sentido contrário
Viagem dum coração
Capaz de ser solidário

Meter dentro da carreira
Os amigos de Joaquim
Sentados à sua beira
Uma viagem sem fim

Para sair em Vilarouco
Ou entrar em Ervedosa
Na viagem pouco a pouco
A carreira é vagarosa

Em S. João da Pesqueira
Desce quem vem da Horta
E ao sair desta carreira
Vai e não fecha a porta

Poço do Canto é que queria
Salvar uma alma sedenta
Camioneta desta alegria
Nunca passa dos quarenta

Entre Touça e Sequeira
Se perdeu o meu passado
Na viagem da carreira
Ninguém vai aqui ao lado

Joaquim do Nascimento
Na memória ao volante
Este livro é um momento
E a vida é só um instante

José do Carmo Francisco

(Foto de autor desconhecido)