quinta-feira, 30 de junho de 2016

35 Anos Depois...


35 Anos Depois...

Não fazemos uma pausa à poesia.
Porque "Iniciais" é poesia.
Poesia da boa premiada pela APE
como o Prémio Revelação de Poesia (1980).

Felizmente,
35 anos depois, "Iniciais"
(inicialmente editado pela Moraes Editores, em 1981)
têm uma segunda edição
da "Apenas Livros".

Como queria José Gomes Ferreira
e quer José do Carmo Francisco:
«A poesia continua.»

Viva a Poesia!
Vivam os Poetas!

(Luís Alves Milheiro)

terça-feira, 21 de junho de 2016

Olhar o monte (Viagem)


Olhar o monte (Viagem)

Vejo o monte quando olho para ti.
Tu não sabes mas o teu olhar é uma porta aberta, um convite, uma sugestão de caminho. Olho-te na cidade e penso logo no campo, penso logo na brancura das casas, no azul das barras, no castanho das telhas. 
Cheguei aqui cansado, vinha a transpirar, os pés pesavam toneladas e, morto de sede, só descansei quando me deste um copo de água tirada de uma bilha no louceiro. A única música que aqui chega é a do vento, capaz de secar a roupa estendida e as tuas lágrimas.

Vejo o monte quando olho para ti.
Vejo nos teus passos o prenúncio do movimento. És tu que seguras o alguidar da roupa que vais estender entre a última casa e a primeira árvore. Tal como foste tu a sacudir o sono e a trazer à vida do monte a sua velocidade.

Há uma ordem, uma perfeita sintonia de aromas que mistura de modo sábio o odor das flores silvestres aqui à volta e o lento cozinhado por ti decidido no espaço da cozinha onde muitas vezes preparar a refeição é mais do que arte; é uma ciência.   

Vejo o monte quando olho para ti.
Habito o espaço sentimental desta imagem por ti povoada. É um dia luminoso, o monte repousa e apenas o esvoaçar da roupa que tu estendeste lembra que vive aqui alguém. As tarefas quotidianas ocupam os seus locatários. Uma humidade difícil de medir percorre e liga a ternura dos teus olhos à respiração da terra.

Vejo o monte quando olho para ti.

José do Carmo Francisco

(Óleo de Guy Troghton)

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Louvor do pastel de nata (Doce Real)


Louvor do pastel de nata (Doce Real)

Como no pódio em lugar cimeiro
Acima do queque e do croissant
O pastel de nata é o primeiro
Da mais bela fornada da manhã
O forno cozeu pão de madrugada
Não esgotou o calor e a doçura
O pão mata uma fome já esperada
A nata adoça o sal da amargura
Quem chega e se dirige ao balcão
Zangado com notícias e jornais
Recebe prazer da boca ao coração
E fica com vontade de pedir mais
No ritual da manhã de cada dia
Tem lugar ao balcão e à mesa
O pastel de nata dá a energia
Para combater a nossa tristeza

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)