terça-feira, 15 de junho de 2021

Estremadura

 


Estremadura

(para a Leonoreta Leitão)

Nas férias grandes ainda sem peso no calendário
Nos dias cheios de iodo no sol da tarde
Molhava os pés na beira do mar e não era
Essa porta nem esse caminho para sair do medo.
Ninguém tinha chaves – só tínhamos o mar
Coisa que obviamente não nos pertencia.
Nas férias grandes as pedras das casas sem mudar
A voz sufocada nos corredores compridos
Era a nossa voz a deitar para dentro
As grandes dúvidas duma porta fechada.
Ninguém tinha chaves – só tínhamos o mar
Coisa que obviamente não nos pertencia.
 
José do Carmo Francisco
 
(Fotografia de Luís Eme)

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Breve poema nº 39 para Ana Isabel


Breve poema nº 39 para Ana Isabel

 

Lugar de Ser é o título de um pequeno e modesto livro colectivo publicado em 2-6-1971, produzido a stêncil na Escola Comercial Veiga Beirão em Lisboa.

Cinquenta anos depois recordo com alguma emoção, surpresa e ternura esses tímidos  primeiros passos de um ofício a que Alves Redol, poucos anos antes, chamou «charrua em campo de pedras».  

Afinal o que hoje procuro é confirmar as palavras de Manuel Simões sobre os jovens poetas de 1971: «Eis-nos perante uma poesia que reflecte os mais secretos anseios do homem, uma poesia cáustica mas serena, portadora do futuro já em marcha.» 

 

José do Carmo Francisco