sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Poema periférico para José Carlos Almeida



Poema periférico para José Carlos Almeida

Todos os domingos de manhã são dias
De meu luto e sofrimento ao telefone
Pelo som do grito de quem dava a notícia.
Tinhas ido comprar os jornais desportivos
A saber novidades do nosso primo jogador
Que fora selecionado para as Esperanças.
Sem esperança ficámos nós num dia de Maio
Do ano de mil novecentos e oitenta e nove
A dez anos da morte do nosso comum avô.
Há na nossa vida uma álgebra tenebrosa
Com datas marcadas para todas tragédias
Todas assim sem saber como nem porquê.
De nada vale alguém circular pela direita
Quando o homicida corta todas as curvas
E se apresenta na curva pela sua esquerda.
O telefone é o mesmo e eu não mudei nada
Sei que todos estes domingos de manhã
O telefone toca para dizer da tua morte.

José do Carmo Francisco        

(Fotografia de Autor Desconhecido)

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