quarta-feira, 2 de maio de 2018

Poema periférico para António Rego



Poema periférico para António Rego

Um homem subia aos telhados para falar
Não havia megafone, Internet ou telemóvel
Nem é correcto chamar telhados aos terraços.
No fundo é tudo uma questão de contexto
Com quando se escreve que uma homem rico
Possui muitos rebanhos, criados e mulheres.
A Bíblia é assim mas podia ser bem outra coisa
Um livro aberto a tão dispersas interpretações
Sempre novo e sempre antigo ao mesmo tempo.
O leitor de CDs do automóvel todas as manhãs
Continua a tocar o Vinde Espírito Santo Criador
Na pressa da cidade onde a febre tudo aquece.   
Um terraço não é um telhado, é só parecido
É só quase a mesma coisa sem o ser de facto
Saiu dos telhados e está hoje mais nos livros.
Porque oração e poema são coisas iguais
Maneiras de juntar de novo nas palavras
Tudo aquilo que a morte devagar separou.

José do Carmo Francisco    

(Foto de autor desconhecido)

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