segunda-feira, 21 de maio de 2018

Poema periférico para António Bárcia



Poema periférico para António Bárcia

Já não se morre como no passado
Hoje todo o morto tem um funeral
Com urna e fato pago pela Santa Casa.
Muitas vezes vai apenas um funcionário
No acompanhamento trinta dias depois
Do corpo chegar à Morgue de Santa Maria.
Porque a lei mudou a vala comum acabou
Mas seu nome ficou nas fichas dos livros
E no coração de quem não o vai esquecer.
Morrer não é apenas deixar de ser visto
Nem as estradas têm curvas como antes
Morrer é sempre um mistério, outra coisa.
Talvez calhe e seja o Pedro a acompanhar
A sua urna se ninguém se chegar à frente
Para tratar de todas essas formalidades.
Tenho um livro onde as suas palavras
Aparecem num tão discreto anonimato
Mas a posteridade essa vai continuar.

José do Carmo Francisco                          
   

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