sábado, 8 de agosto de 2015

Veneza o Segundo Poema - Os relógios invisíveis


Veneza o segundo poema – Os relógios invisíveis

Há em Veneza um outro conceito do tempo. Sem relógios.

É o sol que abre as portas das pastelarias, pequenos hotéis, mercados ao ar livre, livrarias, restaurantes e, também, dos transportes públicos do grande canal. É a sombra que fecha os taipais das bancas dos feirantes, as portas das lojas, os toldos das esplanadas e afugenta os turistas para os autocarros que os esperam do outro lado do canal, perto da estação do comboio.

Mo intervalo há tempo para tudo. Ou quase: a cidade respira, move-se, dialoga, contempla e dorme como se de um ser humano se tratasse. O tempo deu-lhe a sábia medida do que é justo, urgente e necessário. Por isso nas ruas estreitas há um sereno usufruto do tempo. Ninguém atropela, empurra ou agride aquele com quem se cruza.

Nos relógios invisíveis de Veneza é sempre tempo de viver.

José do Carmo Francisco     

(Fotografia de Autor Desconhecido)

Sem comentários:

Enviar um comentário