Ruy Belo
Na tua morte lembrei-me do canal do Panamá
Uma coisa que de certeza não te deve dizer nada
Agora que circulas pelo traçado de uma outra estrada
Á procura de uma praia como a Consolação – e que não há.
Formado em Direito
Canónico e leitor de jornais desportivos
É possível que não
conheças a história deste canal
Ainda por cima ele
é tão longe de Portugal
E desse tempo há
hoje apenas três operários vivos.
Morreram mais de vinte mil trabalhadores franceses
E nas sepulturas há apenas um número que os identifica
Não sei se morreste de malária ou febre-amarela – nada te
rectifica
E nada me devolve as palavras que te ouvi algumas vezes.
Cada um escreve à
sua maneira o poema que lhe calha
E tu já não podes
acrescentar nada à tua poesia
Na tua morte
percorro a tua margem de alegria
E peço-te desculpa
por alguma inevitável falha.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
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