terça-feira, 22 de outubro de 2013

Lamentação da mondadeira de arroz


Lamentação da mondadeira de arroz

Ontem fui à criminosa
Não há nada que se esconda
Maioral de voz raivosa
Mandou-me para a monda.
Vou passar o dia inteiro
Com os pés na água fria
Chegam as febres primeiro
Logo se afasta a alegria.
No pátio que é nosso mundo
Nunca chega a Primavera
Há um silêncio profundo
Todos ficamos à espera.
Os filhos, noras e família
A mulher que vive ao lado
São para ele a mobília
Do querer descontrolado.
Onde ninguém tem vontade
Própria, nascida em raiz
Nem sonho de liberdade
Fora do que o maioral diz.
Na Senhora de Alcamé
Procissão, bênção do gado
Todo o mistério da fé
Continua indecifrado.
Teimosia milenar
Resiste num tempo lento
Aquilo que vou cantar
É levado pelo vento.   

José do Carmo Francisco  

(Fotografia de Autor Desconhecido)   

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