Balada da Travessa
da Queimada
Na memória inventada
à esquina da minha infância
A Travessa da Queimada
ficava a grande distância
Nos pavilhões e nas pistas~
nos estádios e piscinas
Nas crónicas e entrevistas
nas notícias pequeninas
Sonhava com os granéis
hoje é só computador
Não há chumbo nem papéis
num écran feito de cor
Mundial sessenta e
seis
vivido linha por
linha
E os magriços foram reis
bem ao lado da rainha
Estava na tropa e sabia
o peso da ditadura
Nas páginas que então lia
com o sinal da censura
E veio a libertação
maior a responsabilidade
Liberdade de expressão
é expressão da Liberdade
Nas etapas da alegria
um gostinho de
esperança
Carlos Miranda escrevia
a história da Volta à França
Eusébio e Agostinho
Lopes e Rosa a correr
No lugar do coitadinho
nascia o verbo vencer
Setenta e nove Outubro
passei para o outro lado
É então que me descubro
com um texto publicado
Nas colunas da amizade
Vítor Santos e
Pinhão
Abriram a claridade
onde havia
escuridão
No jornal de quinta-feira
um poema foi caminho
Poesia verdadeira
não se fecha no cantinho
O que o poema queria
era dar duas metades
Do futuro e da alegria
do passado e das
saudades
Não se vê o fim da rua
nesta longa caminhada
Porque A Bola continua
na Travessa da Queimada
José do Carmo Francisco
(Ilustração de Autor Desconhecido)
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