sábado, 8 de junho de 2013

Domingo à tarde em Falconwood


Domingo à tarde em Falconwood

O olhar do menino entrou no meu poema
E não mais saiu. Era um olhar sentido
Na revolta de uma exclusão cruel e súbita.
Sentado num banco frente à mesa da festa
não o deixam falar com os conhecidos
Entre vizinhos e colegas de turma na escola.
Quase tudo em seu redor era em miniatura  
locomotivas e linhas de volta à infância
Porque o carvão e os apitos são verdade. 
O olhar do menino era em ponto grande
e a sua dôr tinha o volume da sua idade /
Sete anos bem medidos no meu olhar.
Não era problema não o terem convidado
 mas sim a proibição de se aproximar 
E de comunicar com as crianças da festa.
Festa com pouco de muito recomendável
 além de bolos de fábrica e sumos de pacote 
Bebés e mães com problemas hormonais.
Vejo no menino de Falconwood o meu olhar
quando na minha vida outros me disseram 
Que queres daqui? - como quem bate a porta. 
E ao bater a porta deixam do lado de fora
os sonhos de quem, como eu, só queria fazer
Um breve recado sobre o tempo que passou.
Nos jornais, nas revistas e nas editoras
 nos encontros e desencontros das letras e da vida
Muitas vezes ouvi a pergunta - Que queres daqui?
Foi esse desprezo, essa vaidade, esse rancor
que eu vi hoje no olhar triste do menino 
Nos comboios miniatura de Falconwood.
Lá tudo é miniatura desde o fumo ao apito
desde as várias linhas às passagens de nível
Tudo menos o olhar do menino afastado. 


José do Carmo Francisco   

(Fotografia de Autor Desconhecido)

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