Topogénese de um
poema
O poema começa por ser uma tabela
Pequena folha de papel na madrugada
Tu abrias no quarto andar uma janela
Para medir a fila de trânsito tão parada
Depois é um olhar mais longe mais além
Para estudar as nuvens do lado de Lisboa
Mais leves que as de Sintra e do Cacém
A assustarem este bando que te sobrevoa
O poema começa por ser uma tabela
Pequena tábua onde registo indicações
Nesta hora em que uma linha paralela
Já se insinua tão devagar nas emoções
Vejo a pomba de metal no fim da rua
Vejo um bando assustado a regressar
A sombra que ficou não sei se é tua
Nem sei se afinal é este o teu lugar
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