sábado, 5 de setembro de 2015

Vindima na cidade


Vindima na cidade

Concertinas no lagar
Uma vindima tardia
Fica o rancho a esperar
Pela tua companhia

Na calçada da cidade
Na porta da livraria
Nasce a nova verdade
O encontro e a alegria

Na vindima do desejo
Mamilo é bago maduro
Projecta-se a cada beijo
Uma tesoura em futuro

No socalco da calçada
No relevo de uma blusa
Quem vê não dá por nada
Fica uma imagem difusa

No teu corpo de perfil
Na ilusão da geografia
Em Outubro vejo Abril
Primavera é todo o dia

O sol completa o gosto
Dos bagos de cada cacho
Álcool e açúcar no mosto
Num copo de alto a baixo

Botões são portão da quinta
Blusa é a encosta da vinha
Vindima é de quem a sinta
Na cidade tão sozinha

No lagar das concertinas
Na luz fraca das lanternas
As mulheres são meninas
Nestas vindimas modernas

José do Carmo Francisco  

(O óleo é de Peruzi Yigit)

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