terça-feira, 5 de maio de 2015

Balada da Rua da Amargura


Balada da Rua da Amargura

Minha rua tão sozinha / Do tempo de dar o nome
Foi nas Caldas da Rainha / Do medo nascia a fome.
No dia da inspecção / Ainda havia transporte
Quando cheguei à estação / só pensava na morte.
Minha prima Deolinda / Dava-me o pequeno-almoço
Tenho o sabor hoje ainda / Do olhar em alvoroço.
Meu primo também sofria / As mesmas dores pesadas
Guia de marcha num dia / Para guerra e emboscadas.
Entre o Bairro das Morenas / Arneiros e Águas Santas
As ruas são mais pequenas / Na cidade até às tantas.
Na hora de recolher / Setenta e dois, era Abril
Não parava de chover / Porque as águas eram mil.
E nos exercícios finais / Num pinhal junto à lagoa
O mar dava os seus sinais / O destino era Lisboa.
Foi na Rua da Amargura / Entre a Praça e o Jardim
Que eu fui á tua procura / e só me encontrei a mim.

José do Carmo Francisco        

(postal antigo da Praça da Fruta das Caldas)

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