sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Entre Coruche e Montemor


Entre Coruche e Montemor

Minha musa alentejana
Minha primeira deidade
Tens no olhar de cigana
A força de uma verdade
Ciências, letras e artes
A todas tu vais reger
Tudo divides em partes
Na tua voz de mulher
Minha musa alentejana
A saudade é pesadelo
Passaste na caravana
No teu cavalo murzelo
É mais que cavalo preto
Porque tem cor de amora
Visto em ângulo recto
A trote pela estrada fora
Minha musa alentejana
Carcereira destes versos
Na tua voz tão soberana
Juntas todos os dispersos
Guarda da minha prisão
Tens a chave da cadeia
E no meio da multidão
És a guia que não receia
Minha musa alentejana
A mais linda cabaneira
Abandonas a cabana
Logo à hora primeira
Estradas, veredas, atalhos
Não te esgotam o caminho
É cabo dos meus trabalhos
Estar perto, não ser vizinho
Minha musa alentejana
Eu continuo a procurar
O rasto duma carripana
Que te levou devagar
Quero ser o condutor
Para saber o trajecto
Entre o lugar do amor
E a planície do afecto
Minha musa alentejana
Estás no fim da estrada
Já passou uma semana
E não acabei a balada
Parti à tua procura
E continuo vagabundo
Cantei mas a amargura
É maior do que o Mundo     

José do Carmo Francisco

(Óleo de Jesus de Perceval)

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