terça-feira, 15 de junho de 2021

Estremadura

 


Estremadura

(para a Leonoreta Leitão)

Nas férias grandes ainda sem peso no calendário
Nos dias cheios de iodo no sol da tarde
Molhava os pés na beira do mar e não era
Essa porta nem esse caminho para sair do medo.
Ninguém tinha chaves – só tínhamos o mar
Coisa que obviamente não nos pertencia.
Nas férias grandes as pedras das casas sem mudar
A voz sufocada nos corredores compridos
Era a nossa voz a deitar para dentro
As grandes dúvidas duma porta fechada.
Ninguém tinha chaves – só tínhamos o mar
Coisa que obviamente não nos pertencia.
 
José do Carmo Francisco
 
(Fotografia de Luís Eme)

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