terça-feira, 6 de outubro de 2020

Balada para Ruslam Botiev


Balada para Ruslam Botiev
 
Sempre que estava frio
Meio da correspondência
Tinha que ir ao Val do Rio
O patrão tinha paciência.
Pode ser o Ricardo Reis
Ou então Alberto Caeiro
Três que podem ser seis
Álvaro de Campos inteiro.
Além do próprio Pessoa
Entre mortos e feridos
Tem no mapa de Lisboa
Os sonhos interrompidos.
Todo o som que ele ouvia
No lugar do nascimento
São as sílabas da alegria
No poema do momento.
Poderia ser uma canção
Ou então uma filosofia
E continua a ter razão
Na porta da Tabacaria.
Uma Mensagem escrita
Para o Prémio Literário
E afinal está de visita
O Mundo é ao contrário.
Guardador de Rebanhos
Também fica no retrato
Há caminhos estranhos
Onde não cabe o contrato.
Este gato fica de fora
Do campo do retratista
Mas miou por uma hora
Para que ninguém resista.
No calendário de parede
Com três, número divino
Abel Pereira mata a sede
De quem decifra o destino.
 
José do Carmo Francisco
 
(Desenho de Ruslam Botiev)


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