Poema periférico para Aurelino Costa
O Mundo é como a morte de São Bernardo
Num dos azulejos do Mosteiro de Alcobaça
Música e lágrimas, uns a rir outros a chorar.
Abriram as portas do Palácio Foz em Lisboa
Fecharam as do cemitério da minha terra
Onde a música foi a dos sinais dobrados.
O sol batia em chapa na cruz do cortejo
As velas não apagavam com a brisa do mar
Porque são de tecnologia pós-moderna.
Só as capas são iguais às velhas capas
Do meu tempo de menino nesta aldeia
Calendário entre sementeira e colheita.
Não podia estar em dois lugares nessa hora
Não podia ouvir nem piano nem aplausos
Do concerto onde seria apenas espectador.
Entre lágrimas e música passei este meu dia
Da bela despedida de meu pai a este Mundo
Que é afinal como a morte de São Bernardo.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
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