segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O teu nome


O teu nome.

O teu nome. Sim. Já era o teu nome.
Vindo do chão do tempo antigo, o teu nome cheirava a pétalas pisadas no adro de uma igreja em dia de festa numa aldeia imaginada, trazia no seu dorso o peso das grandes chuvas e o lume das longas tardes de sol entre as searas e as casas da planície.
Era o teu nome e eu não o conhecia.
Depois soltou-se, desligado da gravidade, como se fosse um pássaro ou uma canção, em ambos os casos com o destino óbvio de quem quer voar seja no espaço azul seja no coração de quem ouve cantar. Foi subindo como um anúncio luminoso, como um cartaz de cinema, como uma notícia.
Era o teu nome e eu não o percebia.
Por fim colou-se à luz dos meus dias, deu ao calendário um sinal de fulgor, fez do meu tempo um mar de referências e de memórias.
Era o teu nome e eu não o dizia.
Hoje é a chave da casa, o portão do jardim, o lugar onde me debruço para te esperar quando o fim do dia só faz sentido com o teu regresso.
Vem com ele, dentro dele, uma música suave, oboés e fagotes, trompas de harmonia e bombardinos, trompetes em surdina, clarinetes velozes, todos a dizerem que o teu nome, hoje como ontem, continua a cheirar a pétalas pisadas no adro da igreja em dia de festa numa aldeia imaginada, trazendo no seu dorso o peso das grandes chuvas e o lume das longas tardes de sol entre as searas e as casas na planície.

José do Carmo Francisco

(Óleo de Thomas Edwin Mostyn)

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