quinta-feira, 9 de abril de 2015

Balada da casa dos cantoneiros


Balada da casa dos cantoneiros

Roubaram-me os azulejos
Com as letras do meu nome
Roubaram o pão e os queijos
Que me matavam a fome

Roubaram a minha enxada
Pá-balde e carro de mão
Levaram também a estrada
E com ela o meu cantão

Roubaram tudo o que havia
Nesta casa e atrás da porta
Roubaram toda a alegria
E a casa ficou logo morta

Levaram toda a minha vida
Manhãs e tardes de suor
Hei-de encontrá-la perdida
Vá esta vida por onde for

Na cada dos cantoneiros
Há uma paz de cemitério
Saíram os derradeiros
Avançou logo o mistério

Na casa dos cantoneiros
O telhado não tem telhas
Os relógios sem ponteiros
Registam horas já velhas

Na casa dos cantoneiros
A cozinha não faz fumo
À noite tem companheiros
Sem destino e sem rumo

Na casa dos cantoneiros
A água faz inchar as portas
Não é como nos ribeiros
Que fazem falta nas hortas

José do Carmo Francisco

(fotografia de autor desconhecido)

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