quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Mas toda a gente é pessoa (de um título roubado a António Rego)


Mas toda a gente é pessoa (de um título roubado a António Rego)

Morrem meninos em Gaza / Nasce o menino em Lisboa
Da maré cheia à maré vasa / Mas toda a gente é pessoa.
No mosteiro de Alcobaça  / E na morte do fundador
Metade chora a desgraça  / Metade canta o seu amor.   
São Bernardo em agonia   / Na cama faz a divisão
Os tambores da folia  / Ao lado da prostração.
Na Palestina em guerra  /Em vez de descer da cruz
Um pai desce para a terra  / Porque seu filho é Jesus.
Na Pietá tão diferente  / É um pai em vez da mãe
Chora um sonho de gente  / A partir de hoje é ninguém. 
Pois naquela sepultura  / Além do corpo enterrado
É o sonho duma criatura  / Que nunca vai ser sonhado.
Pietá de todos os dias / Na folha do calendário
O David contra o Golias  / É o Mundo ao contrário.
Tal o gueto da Polónia / Tal as câmaras de gás
Faixa de Gaza é insónia  / Mundo sem luz nem paz.

José do Carmo Francisco 

(O óleo é de Justine Brax)

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