quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Balada da Rua de Baixo



Balada da Rua de Baixo

Rua de Baixo, meu mundo
Onde eu regresso cansado
Quando o olhar é profundo
Já andou por todo o lado

São casas sem ninguém
De famílias desligadas
Não se ouve a voz da mãe
Na névoa das madrugadas

Meu berço e minha escola
Minha casa e minha igreja
O amor não pede esmola
Nas esquinas da inveja

Minha paisagem saudosa
Povoada por destroços
Duma sede mais gasosa
Que a água destes poços

Filarmónica formada
Manhã cheia de brancura
Há festa não tarda nada
Na rua desta amargura

Sete ondas repetidas
São sete beijos do mar
Na areia das nossas vidas
Já só podemos cantar

Pode-se cantar um fado
Feito só de melodia
Um homem fica calado
Ao ver a fotografia

Minha rua inicial
A vida, anos primeiros
Onde passou triunfal
A paixão dos baleeiros

José do Carmo Francisco  

(O óleo é de Vilhelm Hammershoi) 

   

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