domingo, 20 de janeiro de 2013

Balada da cisterna



Balada da cisterna

Cisterna de eirado
Onde estive um dia
E que tinha ao lado
A água mais fria
A água mais pura
Na antiga cisterna
Matando a secura
Da sede moderna
Um jarro na mesa
O bordado com rede
Espelha mais beleza
Quando mata a sede

Cisterna de eirado
Lá no Carvoeiro
Com o mar calado
Fala o nevoeiro
Eu subo à açoteia
Para olhar melhor
Com pés de areia
Sinto mais calor
Comemos sardinhas
No calor da brasa
O sumo das vinhas
Na sombra da casa

Cisterna de eirado
Ficou a saudade
A sede é passado
A água é verdade
Ela veio da Terra
Ela veio do Mundo
A pedra da serra
Desenha o fundo
De cisterna fria
Balde de metal
Onde uma enguia
Vigia o caudal

Cisterna de eirado
Lá no Carvoeiro
Dia bem passado
Certo, verdadeiro
Um verme caído
Dentro do cimento
Será logo comido
No mesmo momento
Esta água trazida
Chega-nos mais pura
Traz mais vida à vida
E fresco à frescura

Cisterna de eirado
Onde estive um dia
Um poema acabado
É já nova poesia
Fica a data escrita
Anos são oitenta
Na memória aflita
Vida tão cinzenta
Página de história
Momento concreto
Fica uma memória
Registo secreto

José do Carmo Francisco 

(Foto de autor desconhecido)

Sem comentários:

Enviar um comentário