Três poemas da periferia
Um
Entre o olhar e os óculos
/ Princípio activo do sorriso / Bem-haja!
no final do balcão.
Se chove no negro do
asfalto /O olhar vê o chão das oliveiras / E as pedras de passar da ribeira.
Lisboa fica a oito
quilómetros / Mas não penso na distância / E trago a terra no olhar.
Dois
Três meninos no passeio /
Dois passos atrás a mãe /E a sombra da menina sonhada.
Hoje o desporto traz suor
/ No ombro de quem correu / Até ao fim da luz do dia.
Calções e camisolas na
máquina / Na praceta onde o sol não vai /Pendura as meias a secar.
Três
Vira o disco e toca o
mesmo /Ana Moura, Zambujo, Mariza /Se fosse Quim Barreiros era igual.
Da cozinha vem o repetido som
/ Loucura de todos os dias / Nas tarefas invisíveis de viver.
Afinal foi tudo das
partilhas / Com a morte da sua mãe / Os irmãos deixaram de ser irmãos.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)
Sem comentários:
Enviar um comentário