sábado, 5 de novembro de 2016

Três poemas da periferia


Três poemas da periferia

Um

Entre o olhar e os óculos / Princípio activo do sorriso / Bem-haja! no final do balcão.
Se chove no negro do asfalto /O olhar vê o chão das oliveiras / E as pedras de passar da ribeira.
Lisboa fica a oito quilómetros / Mas não penso na distância / E trago a terra no olhar.

Dois

Três meninos no passeio / Dois passos atrás a mãe /E a sombra da menina sonhada.
Hoje o desporto traz suor / No ombro de quem correu / Até ao fim da luz do dia.
Calções e camisolas na máquina / Na praceta onde o sol não vai /Pendura as meias a secar.

Três

Vira o disco e toca o mesmo /Ana Moura, Zambujo, Mariza /Se fosse Quim Barreiros era igual.
Da cozinha vem o repetido som / Loucura de todos os dias / Nas tarefas invisíveis de viver.  
Afinal foi tudo das partilhas / Com a morte da sua mãe / Os irmãos deixaram de ser irmãos.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

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