segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Novo poema nº 8 para Ana Isabel


Novo poema nº 8 para Ana Isabel

O grupo de mulheres mandou o menino «brincar para a estrada» mas em 1956 não era perigoso porque entre Alcobaça e Caldas da Rainha o trânsito era muito reduzido.

As vizinhas insistiam nas toalhas limpas e nas panelas de água quente para que tudo corresse bem à criança a nascer e à mãe de vinte e cinco anos.

Porque nem a tosse convulsa nem a infecção intestinal a conseguiram derrotar é que a alegria de hoje é feita de lágrimas e de sangue pisado.    

José do Carmo Francisco  

(Óleo de Frederic Bazille)


quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Novo poema nº 7 para Ana Isabel



Novo poema nº 7 para Ana Isabel

Algumas das portas dos prédios desta Rua ostentam flores pequenas em cima da madeira da porta como se ela fosse um lugar de oração e não um ponto de passagem.

Nesta liturgia urbana é como se houvesse uma missa campal: o sol, o altar, o calor, a palavra, as espécies do ofertório, as lágrimas da comunhão.

Porque em Janeiro morreu uma menina e por cada sonho adiado surge uma flor sobre a madeira da porta na teimosia ingénua mas profunda de juntar de novo tudo aquilo que a morte separou.

José do Carmo Francisco

(Óleo de Henri Matisse)