terça-feira, 27 de março de 2018

As casas de Martine



As casas de Martine

São feitas de memória em inventário
As casas de Martine de Norte a Sul
País real para além do calendário
Fixando numa cor que hoje é azul.
São mais que sete casas do poema
São mais que do largo as duas ruas
O poço no meio saiu dum cinema
Cerromaior traz consigo outras luas.
Catálogo de uma viagem a Portugal
Janelas, portas, chaminés, telhados
Olhar do tempo efectivo e natural
Em casas de habitantes afastados.
Casas a quem quero como minhas
Com balcões para eu ficar todo o dia
Águas-furtadas palavras tão sozinhas
Como a força desta nova geografia.

José do Carmo Francisco   

quinta-feira, 15 de março de 2018

Balada da Rua Morais Soares 95 A


Balada da Rua Morais Soares 95 A

Por insólitos factores
E razões particulares
Saiu dos Restauradores
Foi para a Morais Soares.
Continua a ser o Pirata
Com ou sem perna é opção
É um aperitivo de prata
Um digestivo de eleição.
Seja qual for a hora
No balcão em ritual
A pressa já se demora
Na liturgia sem missal.
Óh Ribeira dos Amiais
Onde era longo o Inverno
Oiço o cantar dos pardais
Tempo velho e moderno.
Saudades do espaço antigo
Bois, carroças e cavalos
Na adega dum amigo
O vinho de três estalos.
Nas carradas de tijolo
Casas novas num casal
Vinho fresco é consolo
No Verão de Portugal.
Hoje na Morais Soares
Continua a aventura
Dos piratas sem lugares
Nas ruas da amargura.
Num tempo de alegria
Um intervalo em pessoa
Fica o Pirata em poesia
Nesta rua de Lisboa.

José do Carmo Francisco 

quinta-feira, 8 de março de 2018

Poema para uma fotografia de António Capela


Poema para uma fotografia de António Capela

Sabemos alguma coisa sobre o efémero
Das fotografias num certo dia de manhã
Na estrada para os lados de Torres Vedras.
António Capela regista o esforço dos ciclistas
Está frio e João Rocha bate com os sapatos
Contra o vento das praias de Santa Cruz.
Os roladores guiam o pelotão sportinguista
Emiliano Dionísio fica para trás na estrada
Guardando-se para brilhar na pista à noite.
Sabemos muito pouco sobre o efémero
Quase nada sobre o pó e a posteridade
Que o futuro nos reserva tão de surpresa.
Ficamos nas fotografias, teimosos,
Como se a eternidade fosse possível
No preto e branco de cada momento.

José do Carmo Francisco   

(Fotografia de António Capela)