quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Balada para Luísa Amaro em Alcochete



Balada para Luísa Amaro em Alcochete

Uma musical cartografia
Doze faixas desenhada
Assim ninguém desconfia
E passa sem dar por nada.
Vendaval de sentimentos
Tempestade de emoções
Aqui todos os momentos
São motivos, são razões.
Um mundo que se revela
Nas etapas de um roteiro
O som que bate à janela
É a voz dum marinheiro.
Concentrada de repente
Nas notas de melancolia
Na boca de toda a gente
Vai viver até ser dia.
Em Alcochete as salinas
Esperam a tarefa solar
De romper as neblinas
Rumo ao sal que é o mar.
Servido às praias da casa
Onde a praia é de linho
O fumo que sai da brasa
Sobe ao céu devagarinho.
Num azul que é todo luz
Quem diria, quem diria
O terço do Padre Cruz
É uma sombra e um guia.
Porque se vamos saber
Fonte da arte é a morte
Nos dedos duma mulher
Há um roteiro de sorte.

José do Carmo Francisco 

(Fotografia de Autor desconhecido)

domingo, 20 de janeiro de 2019

Balada da mesa de sete na casa do Monte



Balada da mesa de sete na casa do Monte

A Cultura e a Natureza
Na mesa de sete talheres
No cozido à portuguesa
Predominam as mulheres.
Os homens são apenas três
Dois Zés e Fernando é guia
As mulheres por sua vez
São quatro são a maioria.
Duas Marias uma Manuela
Uma Ana que olha o Sul
Pelos vidros da janela
Da casa de barra azul.
Um vinho branco divino
Na amizade em liturgia
São as linhas do destino
Que se cruzam neste dia.
Há o comboio derradeiro
Na direcção de Lisboa
Só está neste apeadeiro
A sombra duma pessoa.
Fui eu e fiquei à espera
Guia de marcha perdida
Setenta e dois já não era
Solução da minha vida.
Na Rua dos Mercadores
Entre Muralhas e Praça
Orgulho dos moradores
Bairristas de certa raça.
Que é assim esta vaidade
Que não discute ou hesita
Ser do centro da Cidade
Nossa coisa mais bonita.
A Natureza e a Cultura
No dia que não esquece
Aquilo que se procura
É juntar como uma prece
O azul do céu sem limite
O som da Terra a cantar
O poema já não permite
Como um rio vai pró mar.

José do Carmo Francisco      

(Fotografia de Álvaro Carvalheiro)

sábado, 12 de janeiro de 2019

Balada para Alfredo Cunha


Balada para Alfredo Cunha

Quem diria quem diria
No livro de Alfredo Cunha
Que cada fotografia
É registo e testemunha.
Dum tempo que continua
Dum país que tem razão
Não se chega ao fim da rua
Nem termina a emoção.
A Cultura e a Natureza
Preto e branco lado a lado
Uma vida portuguesa
Sem futuro nem passado.
Só se vive no presente
Mas a foto é que resiste
Ao desgaste de uma gente
Que quer voltar a ser triste.
Na linha dos trovadores
A cantar de terra em terra
Entre servos e senhores
Coração em pé de guerra.
Que diria quem diria
No livro de Alfredo Cunha
Que cada fotografia
É registo e testemunha.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de Alfredo Cunha)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Balada para Ana Isabel



Balada para Ana Isabel

Nesta visita à infância
Em quotidiana rotina
Logo se quebra distância
Na voz da mulher-menina.
Seja Inverno ou Verão
Outono ou Primavera
A multiplicada paixão
Tem uma criança à espera.
Está na força não pequena
Que transpira desta mesa
A razão da mais serena
Muralha da fortaleza.
São escritoras são actrizes
São rainhas ou princesas
Também as imperatrizes
Usam as letras acesas.
Venha dum livro sagrado
Ou duma lenda de Baal
O nome está registado
Na História de Portugal.
Uma santa foi rainha
Com as rosas feitas pão
No avental de cozinha
Um amor tinha razão.
Na mesa de despedida
Histórias e ilustrações
A ternura recolhida
Vai nos jovens corações.

José do Carmo Francisco 

(Óleo de Gleb Barabanschikov)