Balada da cisterna
Cisterna de eirado
Onde estive um dia
E que tinha ao lado
A água mais fria
A água mais pura
Na antiga cisterna
Matando a secura
Da sede moderna
Um jarro na mesa
O bordado com rede
Espelha mais beleza
Quando mata a sede
Cisterna de eirado
Lá no Carvoeiro
Com o mar calado
Fala o nevoeiro
Eu subo à açoteia
Para olhar melhor
Com pés de areia
Sinto mais calor
Comemos sardinhas
No calor da brasa
O sumo das vinhas
Na sombra da casa
Cisterna de eirado
Ficou a saudade
A sede é passado
A água é verdade
Ela veio da Terra
Ela veio do Mundo
A pedra da serra
Desenha o fundo
De cisterna fria
Balde de metal
Onde uma enguia
Vigia o caudal
Cisterna de eirado
Lá no Carvoeiro
Dia bem passado
Certo, verdadeiro
Um verme caído
Dentro do cimento
Será logo comido
No mesmo momento
Esta água trazida
Chega-nos mais pura
Traz mais vida à vida
E fresco à frescura
Cisterna de eirado
Onde estive um dia
Um poema acabado
É já nova poesia
Fica a data escrita
Anos são oitenta
Na memória aflita
Vida tão cinzenta
Página de história
Momento concreto
Fica uma memória
Registo secreto
José do Carmo
Francisco
(Foto de autor desconhecido)