O
teu nome.
O teu nome. Sim. Já era o
teu nome.
Vindo do chão do tempo
antigo, o teu nome cheirava a pétalas pisadas no adro de uma igreja em dia de
festa numa aldeia imaginada, trazia no seu dorso o peso das grandes chuvas e o
lume das longas tardes de sol entre as searas e as casas da planície.
Era o teu nome e eu não o
conhecia.
Depois soltou-se,
desligado da gravidade, como se fosse um pássaro ou uma canção, em ambos os
casos com o destino óbvio de quem quer voar seja no espaço azul seja no coração
de quem ouve cantar. Foi subindo como um anúncio luminoso, como um cartaz de
cinema, como uma notícia.
Era o teu nome e eu não o
percebia.
Por fim colou-se à luz
dos meus dias, deu ao calendário um sinal de fulgor, fez do meu tempo um mar de
referências e de memórias.
Era o teu nome e eu não o
dizia.
Hoje é a chave da casa, o
portão do jardim, o lugar onde me debruço para te esperar quando o fim do dia
só faz sentido com o teu regresso.
Vem com ele, dentro dele,
uma música suave, oboés e fagotes, trompas de harmonia e bombardinos, trompetes
em surdina, clarinetes velozes, todos a dizerem que o teu nome, hoje como
ontem, continua a cheirar a pétalas pisadas no adro da igreja em dia de festa
numa aldeia imaginada, trazendo no seu dorso o peso das grandes chuvas e o lume
das longas tardes de sol entre as searas e as casas na planície.
José do Carmo Francisco
(Óleo de Thomas Edwin Mostyn)
Sem comentários:
Enviar um comentário