Poema
periférico para o Bom Retiro
O
Bairro começava nos prédios da Confidente
E
ia até ao fresco da Fonte de Santa Sofia
Para
acabar ao lado do Colégio Sousa Martins.
No Jorge os homens jogavam ao chinquilho
Nas tardes dos sábados sem horas a
contar
E as mulheres falavam na falta das
azeitonas.
O
homem GazCidla usava a caixa de fósforos
Para
ter a certeza de que o gás não fugia
E
sempre na casa com crianças ali ao lado.
Uma mulher chamou-nos gente ambulante
Mal sabendo ela a pobre o que estava a
dizer
Porque a gente ambulante eram os
ciganos.
Claro
que já não eram ciganos como os outros
Mas
o que a mulher dizia com rancor para nós
Era
comos os cães do gado frente à caravana.
Ciganos a vida inteira a trabalhar para
os outros
Nas hortas, nas eiras, nas vinhas, nos
olivais
E a tristeza nos olhos sem idade e sem
destino.
José
do Carmo Francisco