Vermeer na sua casa de
Groote Markt em 1655
(a José Manuel Capelo)
A morte de meu pai, mais
conhecido em Delft do que eu /leva-me a transformar o rés-do-chão em taberna.
Catharina toma-me conta
das crianças enquanto pinto / e vou passando por este desgosto recente,
inesperado / uma sombra mais neste horizonte escuro da cidade / tal como o
pintei no meu quadro UMA RUA DE DELFT: / uma casa, um acesso a um pátio, três
mulheres e / um céu carregado de cinzento escuro e de nuvens.
Não faço paisagens nem
retratos de encomenda / apenas paisagens interiores e retratos sentimentais /
com excepção da minha cidade que pintei uma vez.
Interessa-me muito mais a
temperatura sentimental / duma casa – a mulher que lê a carta do marido / na
guerra, a rapariga que adormeceu à mesa a bordar / uma toalha, a criada que
prepara o leite na cozinha / o olhar da mulher preso no olhar do soldado, tudo
enfim.
Tudo ou apenas aquilo que
pude recolher e para mim é tudo...
José do Carmo
Francisco
(O óleo é de Vermeer)