Balada para um poema de David Mourão-Ferreira
Dizem que era Primavera
Quem diria, quem diria
Ó meu amor quem me dera
Ter morrido nesse dia. (citado de memória)
Vai comigo a todo o lado
O remorso que subia
O tempo era o passado
Um sabor a cobardia.
E na Praia da Vieira
O melão era em fatia
A paixão mais primeira
Nunca mais acabaria.
Do naufrágio do Salsinha
Treze mortos por chorar
Quando a dor é tão vizinha
Viramos costas ao mar.
Dizemos adeus na areia
O tempo corre tão veloz
Quando chega maré cheia
Deixo de ouvir tua voz.
O amor seca as raízes
Nasce de novo e prospera
Conheço novos países
Mas na mesma Primavera.
Quem diria, quem diria
Na camioneta que passa
Morre a luz daquele dia
A caminho de Alcobaça.
José do Carmo
Francisco
(Fotografia de autor desconhecido)