quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Balada para um poema de David Mourão Ferreira


Balada para um poema de David Mourão-Ferreira

Dizem que era Primavera
Quem diria, quem diria
Ó meu amor quem me dera
Ter morrido nesse dia. (citado de memória)
Vai comigo a todo o lado
O remorso que subia
O tempo era o passado
Um sabor a cobardia.
E na Praia da Vieira
O melão era em fatia
A paixão mais primeira
Nunca mais acabaria.
Do naufrágio do Salsinha
Treze mortos por chorar
Quando a dor é tão vizinha
Viramos costas ao mar.
Dizemos adeus na areia
O tempo corre tão veloz
Quando chega maré cheia
Deixo de ouvir tua voz.
O amor seca as raízes
Nasce de novo e prospera
Conheço novos países
Mas na mesma Primavera.
Quem diria, quem diria
Na camioneta que passa
Morre a luz daquele dia
A caminho de Alcobaça.

José do Carmo Francisco

(Fotografia de autor desconhecido)

domingo, 13 de agosto de 2017

Canção breve para uma foto de 1957


Canção breve para uma foto de 1957

Quem diria, quem diria
Seis por nove de ocasião
Na casa onde eu nascia
A primeira comunhão.
Era apenas na tranqueta
A porta da casa velha
O peixe frito na gaveta
Pão no tecto junto à telha.
Quando alguém ia a correr
Buscar brasas para o incenso
Com soluços de mulher
As lágrimas ficam no lenço.
Quem diria, quem diria
Sessenta anos mais tarde
O retrato que eu sabia
É a fogueira que arde.
Na casa feita em ruínas
Só uma memória resiste
Nas horas mais pequeninas
A infância é um campo triste.
Das ilusões semeadas
Numa fazenda em pousio
A eira das madrugadas
Tem o milho junto ao rio.
Era em Santa Catarina
Que os sonhos eram reais
Música ao virar da esquina
Nasciam as festas anuais.
Naquilo que foi destino
Ruínas em vez de amor
Meu retrato pequenino
Perdeu-se e não tem valor.

José do Carmo Francisco      

(Fotografia de autor desconhecido)

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Balada para Hélder Oliveira


Balada para Hélder Oliveira

Transporte Sentimental
Na viagem ao passado
Este som de Portugal
Vai comigo a todo o lado.
Em Moscovo de surpresa
Os parabéns do amarelo
Uma história portuguesa
Entre a Estrela e o Castelo.
Há um homem faz agulha
No cruzamento um destino
Estou no carro da Pampulha
E sou de novo um menino. 
Vou ao Chile pela chapa
Para poder trabalhar
Troco palhinha por napa
Junto à janela o lugar.
E nas Escolas Gerais
Inda resiste a carreira
Avisos não são de mais
Cuidado com a carteira.
Num dia de manhã cedo
Escola Marquês de Pombal
Fiz o exame do medo
No Instituo Comercial.
No mapa desta cidade
Há jogos no calendário
Tapadinha e Alvalade
Luz e Restelo ao contrário.
Foi de eléctrico atrelado
No Estádio foram leões
E o Celtic foi festejado
Campeão dos campeões.
Lá vai Helder de Oliveira
Que caminha sem receio
Está na Praça da Figueira
Saudando o guarda-freio.

José do Carmo Francisco   

(Fotografia de autor desconhecido)