Balada para Salgueiro Maia em S. Torcato
Para acabar com o luto
De noivas, avós e mães
É que a noite deu fruto
Nas armas dos capitães.
Nas portas da madrugada
De Santarém nos limites
Foi Lisboa atravessada
Pelo grupo de Chaimites.
Passou no Terreiro do Paço
Ali bem defronte do rio
A caminho doutro espaço
Deu a volta no Rossio.
Para cercar com disparos
O Governo de surpresa
O quartel com fiéis raros
Tinha ali a sua defesa.
Porque foi em S. Torcato
Escola Primária pequena
Que desenhou o formato
De tanta força serena.
Vendo o pai ferroviário
Com a lancheira já fria
Quis o país ao contrário
Da guerra veio alegria.
Hoje é só mercadorias
Venda Novas ao Setil
Não se repetem os dias
Na estação que era febril.
Veio um grupo de rapazes
A governar a Nação
São coladores de cartazes
A cobrar a comissão.
Nada sabem do passado
Nem da guerra africana
Cada momento gravado
Cada dia uma semana.
Os votos de dois milhões
São apenas maioria
Porque ganhar eleições
Não chega a democracia.
José do Carmo Francisco
(Foto de Alfredo Cunha)