Para os 128 anos da Filarmónica Catarinense
(Poema autógrafo
para Luís Almeida)
Primeiro eram as minhas lágrimas
No dia da Padroeira eu chorava
Porque não tinha visto o Peditório
E a Festa quase me passou ao lado.
Lágrimas da mãe do
João Chicote
Ao entregar o seu
querido menino
Ao meu avô e que o
tratasse como
Se ele fosse mais
um dos seus filhos.
Meu avô José Almeida era músico
Tocava trompete ou bombardino
Mas fazia caixões para os anjinhos
E usava lágrimas em vez de pregos.
Fosse na Granja
Nova, no Carvalhal
Na Ramalhosa ou nas
Alcobertas
Nós sem farda íamos
fora também
E mesmo sem sair da
nossa terra.
Primo Luís Freire fechou seu estojo
Não tocou mais e morreu em casa
Dois dias depois das fortes lágrimas
Da minha mãe no Domingo à tarde.
Só as trompas já
eram um poema:
O Padre Castelão a
falar ao Raposo
Vejo o Arnaldo e o
David Funcheira
E todos os músicos
do nosso passado.
Sem esquecer essas meninas todas
Melodias, contrapontos, harmonias
E capazes de salvar a Humanidade
Da sua morte já há muito anunciada.
Lembro meus tios
Álvaro e Armindo
Meu tio-avô Joaquim
com a tarola
As nossas lágrimas
continuam a cair
Para eu trocar a
Morte pela Vida.
José do Carmo Francisco
(Fotografia de Luís Eme)